segunda-feira, fevereiro 21, 2005

apjr

ESCUTA AQUI

A quase morte da eletronica
ALVARO PEREIRA JUNIOR
Comeco dos anos 90. Uma tempestade quimico-musical vinda da Inglaterra
desaba sobre o planeta. Mesmo no Brasil, seus efeitos sao sentidos. Nome da
borrasca: musica eletronica.
O som dos computadores virou sinonimo de futuro. DJs e produtores passaram
a ser tratados nao so como artistas, mas como visionarios. Tudo apontava
para um caminho definitivo de dominacao mundial.
Quinze anos depois, no entanto, tudo mudou. Estilhacada em dezenas de
generos e subgeneros, a musica eletronica transformou-se em cultura de
nichos, cada um deles com "parametros esteticos estreitos", como descreveu
o sempre genial critico ingles Simon Reynolds em um artigo recente para o
"New York Times". Cultura de nicho nao combina com sucesso planetario.
O texto preciso de Reynolds refere-se principalmente ao mercado de musica
que conta de verdade -ou seja, o dos EUA. Ele aponta que as raves
praticamente nao existem mais por la. Nem no sul da California, onde eram
muito fortes ate o final do seculo 20.
Simon Reynolds separa musica eletronica "mainstream" (Chemical Brothers,
Daft Punk, Prodigy) daquela "underground" (DJs europeus de tecno,
basicamente). E conclui que as coisas andam ruins dos dois lados.
O ultimo album do Prodigy foi um fracasso. Os trabalhos mais recentes de
Chemical Brothers e Daft Punk, ainda que bons, foram recebidos com
indiferenca. No mundo "underground", nos anos 90, um vinil de sucesso
vendia ate 50 mil copias. Hoje, nao chega a mil.
Para Simon Reynolds, "a musica [eletronica] se tornou familiar, e a
familiaridade criou o tedio".
Ele cita alguns artistas novos que inverteram a logica da musica
eletronica, que nos anos 90 parecia apontar sempre para o futuro e o
infinito. Agora, recicla-se ate o rock gotico dos anos 80, como vem fazendo
o produtor finlandes Kiki, com vocais copiados dos goticos Sisters of
Mercy.
Reynolds e autor do livro "Generation Ecstasy", guia definitivo dos sons
eletronicos. Esta longe, portanto, de ser um inimigo do genero. No texto,
apesar do tom de critica, ele deixa uma fresta para a esperanca. Diz Fatboy
Slim: "Estamos so esperando pela proxima grande coisa na musica dance.
Estamos numa entressafra de grandes coisas, e ninguem sabe como a proxima
vai ser."

PLAYER

A quase morte da eletronica
PLAY - "Yeah", LCD Soundsystem
Simon Reynolds gosta, "Escuta Aqui" vai na onda! A letra diz so "yeah". Com
um som de baixo poderoso, quem precisa de palavras?

PLAY - "88 AKA Come Down On Me", Lemon Jelly
O Nine Inch Nails vem ai de disco novo, mas nem precisava. A dupla Lemon
Jelly ja faz o som que o NIN devia estar fazendo em 2005.

PLAY - www.bbc.co.uk/ music/profiles/ music/profiles/>
Escutou um som, anotou o nome do artista, mas nao faz a menor ideia de quem
seja? A resposta esta aqui, em todos os generos.