terça-feira, outubro 16, 2001

California Dream
E os brasileiros vivendo nos EUA, como estão lidando com o terror se tornando algo tão próximo e presente?

E os brasileiros vivendo nos EUA, como estão lidando com o terror deixando de ser um artigo perdido nas páginas internacionais do jornal e se tornando algo tão próximo e presente?

A carta abaixo foi enviada por um jovem chefe de família brasileiro:

E aí, Paulo? Como vai? Desde junho de 99 eu e minha familia estamos morando na Califórnia.

Aproveitando o fato de ter uma filha americana e uma mulher com Green Card, saí fugindo do sobe-e-desce da nossa economia, da insegurança de Sampa e do trânsito infernal da Bandeirantes. Aqui, passado o tempo do sub-emprego, encontramos a estabilidade do dólar ,a segurança e limpeza quase total de Sta Mônica e, para irmos à praia, andando levo menos de 10 minutos. Tá certo, não é Maresias e muito menos Ilha Bela, mas a 10 minutos... Minha filha parece estar vivendo num seriado de TV. High school, pólo aquático, boyfriend, prancha de surf, snowboard, enfim, tudo que pediu a Deus. O moleque, virando teenager, cabelo espetado, matando os gringos no "soccer" e começando a arrepiar no snowboard. Eu trabalho de assistente de marketing numa empresa e minha mulher, num dos shoppings mais bacanas do pedaço.

SONHO DE VALSA

Não pegamos freeway e os trabalhos e escolas são a 10 minutos de casa. Saudades, é lógico que sentimos, mas quando aperta, coloco um Gil ou Paralamas, ou corro até a loja de produtos brasileiros e compro um Sonho de Valsa e farinha de mandioca. Todo dia me informo lendo o JT pela internet, pelas notícias que tenho lido, continuo achando que fiz muito bem em fugir daí. Não consigo imaginar minha filha de 17 anos caindo na noite de São Paulo. Lendo uma de suas crônicas, sobre os atentados, achei que vc gostaria de ouvir a opinião de quem está aqui, mas vê a situação e a atitude (eles aqui adoram essa palavra) deles com os olhos de quem veio daí. Bom, passado o choque inicial, os gringos começam a mostrar sua verdadeira cara. Um dia após os ataques, as ruas já começaram a ficar cheias de bandeiras - hoje a cada 10 carros 11 tem bandeira, lojas, casas, restaurantes. Parece Copa do Mundo no Brasil. Só que a seleção dos caras é o exército. Cada turma que embarca, choro, banda e tome "God bless America". Parece a gente, preocupados com a unha encravada do Rivaldo.

Ninguém quer saber porque meio mundo tem ódio mortal deles. De uma hora pra outra 95% dos caras concordam com tudo que o W. Bush fala, o mesmo que nos seus primeiros dias de governo disse: "O que é bom para os EUA é bom para o resto do mundo".

Vibram, enquanto tomam cerveja na frente da TV vendo as bombas destruírem o que já não existe. Filme que eles já viram em 1991 quando a CNN mostrou ao vivo a destruição de Bagdá. Só aqui em LA, mais de 50 descendentes de árabes já foram atacados. Liquor stores incendiadas, restaurantes apedrejados e crianças hostilizadas nas escolas.

Muros pixados com frases tipo "morte aos árabes" são vistos logo cedo, pois a turma que apaga vem correndo logo atrás.

GATINHA

Minha manager, uma gracinha de menina, loirinha, loirinha, cantora de hard rock nas horas de folga, mostrou suas garras ao me dar um desenho do velho "Tio Sam", só que em vez do dedo indicador chamando os americanos para alistarem-se no exército, o dedo que está erguido é o do meio com dizeres impublicáveis contra os que estão contra eles . Ou seja de gatinha a urso bravo. A paz americana está ameaçada como nunca esteve, a guerra chegou aqui. O céu na Califórnia continua azul, mas agora ficamos procurando para ver se não tem nenhum Boeing despencando. Já não se encontram máscaras de gas em nenhuma loja do pedaço. Qualquer cara barbado, o nosso tradicional "turco", está tendo que andar de olho aberto. Estou me sentindo naquela de "se ficar o bicho pega, se correr o bicho come". Calçadão de Venice com anthrax no ar ou Faria Lima com trombadão, pois trombadinha era quando eu estava por aí, e imagino que os caras cresceram. Assalto a mão armada ou bactéria vindo junto pelo junk mail ? No século 21 e os caras com cabeça na Idade Média.

Bom, espero que na pior das hipóteses, possa escrever pra TRIP sobre a fuga de carro via México e América Central.

Abraços a todos, ainda são e salvo


Jornal da Tarde
16/10/2001

segunda-feira, outubro 15, 2001

Nebula, ao vivo, em FM
MARCELO VALLETTA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Já está se tornando tradição ouvir, nas noites de segunda-feira, boas atrações internacionais tocando ao vivo nos estúdios da Brasil 2000 FM (107,3 MHz na capital paulista e em www.brasil2000.com.br).
Hoje, a partir das 23h, participa do programa "Garagem" (também na internet, em www.garagem.net) o trio norte-americano Nebula, que está em turnê pelo país desde a semana passada e faz show em São Paulo na próxima quinta-feira.
Contratado pela gravadora Sub Pop, que revelou o Nirvana e outras bandas da era "grunge", o Nebula toca um rock pesado com toques de psicodelismo, na trilha de grupos como Monster Magnet e Queens of the Stone Age.

O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Marco Vinicio Petrelluzzi, participa hoje do "Jornal Gente", a partir das 8h15, na Rádio Bandeirantes (em São Paulo, 840 kHz e 90,9 MHz; na internet, www.radiobandeirantes.com.br). A emissora também lança hoje sua campanha beneficente de Natal.

valletta@folhasp.com.br

É PODRE MESMO
O Banco Central decidiu aceitar as chamadas moedas podres (títulos públicos que são negociados com deságio no mercado em razão do risco de calote) nas próximas privatizações de bancos estaduais. Até 90% do preço poderá ser pago com esses papéis, que serão aceitos pelo valor de face.
Conforme reportagem do jornal "Valor", o objetivo do BC é estimular lances mais elevados nos leilões de bancos menores, que não têm a atratividade de grandes instituições como o Banespa e o Banestado.
O BC argumenta que, como esses papéis são dívida do próprio Tesouro Nacional, é indiferente para a União receber em reais ou em títulos.
É evidente que a permissão para usar moedas podres tende a elevar o valor nominal dos lances. Afinal, em razão dos deságios sobre o valor de face, o montante que de fato é gasto é bem menor do que o nominalmente oferecido. Mas isso não significa que a aceitação de moedas podres seja indiferente para o abatimento de dívida pública.
Isso só seria verdade se os aumentos nos preços fossem superiores aos deságios dos papéis. Se não, o Tesouro poderia em tese usar os reais obtidos na privatização para resgatar os títulos diretamente no mercado, beneficiando-se dos deságios.
A utilização de moedas podres foi um instrumento importante para alavancar o início das privatizações. Algumas estatais foram vendidas quando ainda havia recursos bloqueados pelo Plano Collor. Ao mesmo tempo, esse procedimento possibilitou limpar boa parte dos ativos podres acumulados pelo sistema financeiro durante os anos 80.
Mas, agora, o pagamento de até 90% do preço dos bancos em moedas podres soa apenas como uma maneira de permitir uma redução disfarçada dos preços mínimos.
O BC talvez tema que, em razão da estagnação econômica, tais preços estejam altos. Mas, se isso for verdade, o mais correto seria reavaliar os valores mínimos de forma transparente. Ou deixar as privatizações para quando a economia estiver melhor
London Burning Festival Neste sábado (20/10), às 22h, no Orbital (r. Augusta, 2.894, tel. 0/xx/ 11/5096-0737), a festa traz o lançamento do CD do Strokes e os shows das bandas De Falla, Sonic Jr. e Tiazinha e os Cavaleiros Mascarados. Ingresso: R$ 8.
escuta aqui

Bin Laden nos olhos dos outros é refresco
ÁLVARO PERREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA

F., nosso personagem de hoje, é um tipo raro de cientista: tem uma paciência de Jó. Mesmo trabalhando em um centro de pesquisa de ponta na Califórnia, em clima altamente competitivo, F. destaca-se pela vontade de ajudar. Não faz fofoca de escritório e não se incomoda, pelo menos aparentemente, em passar horas explicando uma nova técnica a um companheiro.
F. tem uma deficiência física, que suplantou com empenho e capacidade intelectual.
O começo de setembro era especial para F.: sua mulher, professora, também deficiente física, estava grávida. Tempo especial, mas também aflitivo: fazia semanas que aconteciam vários "alarmes falsos". E o parto, mesmo quando parecia iminente, acabava adiado.
O sogro de F. passava uma temporada na Costa Leste. Preocupado com as incertezas da gravidez da filha, decidiu vir acompanhar tudo de perto.
Mas o sogro de F. nunca mais viu a família. Ele estava no vôo 93 da United, que caiu sobre a Pensilvânia, em 11 de setembro. Nesse avião, ao que tudo indica, passageiros atléticos enfrentaram os terroristas, evitando um desastre ainda maior.
O filho de F. finalmente nasceu, está bem. Ia se chamar J., os pais mudaram para A., nome do avô que ele jamais vai conhecer.
Contei esta história porque tenho lido sobre certas reações antiamericanas no Brasil. Logo depois dos ataques de 11 de setembro, vi que jovens alunos de uma colégio de filhinhos de papai da zona sul do Rio apoiaram maciçamente a demência de Osama bin Laden.
Até entendo essas atitudes. Apesar de viver há dois anos aqui e de apreciar principalmente o acesso à informação que os EUA possibilitam, minha admiração pelo modo de vida local é zero. Não engulo seu pragmatismo cego, sua incapacidade de enxergar nuances, sua ignorância sobre tudo o que não seja americano.
Sei que os EUA são arrogantes e que seu presidente parece ter um teleprompter embutido no cérebro.
Mas não dá para achar bonito ver 5.000 inocentes morrerem.
Do conforto da zona sul carioca, com escr..., digo, empregadas satisfazendo todos os desejos e com a mamãezinha trazendo comida quente, é fácil ser rebelde.
Se blablablá fosse alguma coisa, o Brasil não estaria na lama de hoje, e Glauber Rocha teria sido o maior cineasta de todos os tempos.
A loucura Taleban não é uma abstração. Matou gente de verdade, como o sogro de F., cientista do bem.


GRINGAS

Calcinhas da Shirley 1
O Garbage, banda da rainha diaba Shirley Manson, foi promover seu novo disco no programa de entrevistas de David Letterman. Com a ruiva Shirley no palco, claro que a música passa para segundo plano, e foi difícil não achar estranho o novo visual que ela apresentou, tipo David Bowie em 74.

Calcinhas da Shirley 2
Ela raspou quase careca dos lados, e deixou uma enorme franja vermelha. De botas pretas até o joelho, Shirley usava uma bermuda jeans comprida, bem folgada na cintura. Aparecendo acima da bermuda, viam-se claramente as laterais de uma calcinha vermelha. Mas calcinha de gringa, tipo aquelas em forma de coador.

O melhor de Nova York
Se você tem acesso, não deixe de comprar a edição especial da revista "Rolling Stone" sobre os atentados contra Nova York e Washington. Dois destaques: o jornalista que passou semanas numa escola religiosa no Paquistão (muito Alcorão, homossexualismo e um pouco de vôlei) e o repórter que almoçou com Bin Laden no Sudão.

História do New Order
Ainda sob o impacto do ótimo CD "Get Ready", "Escuta Aqui" não consegue parar de ler tudo o que cai em suas mãos sobre o New Order. A última maravilha foi uma gigantesca reportagem da revista "Mojo", contando tudo e mais um pouco sobre o grupo. Para os raros que têm din-din, imperdível.




CD PLAYER

"East Polar Opposite Can Dream", Magoo
É com satisfação que "Escuta Aqui" registra a volta de uma de suas bandas preferidas. Este compacto com três faixas mantém a linha eletrônica/rock, obra de cientista maluco.

"Androginy", Garbage
A nova do Garbage é o tipo de música que parece que vai, parece que vai e acaba não "fondo". Como dizia o Butt-Head, às vezes é legal que parte de uma música seja ruim para que a parte boa pareça melhor ainda.

"Retrato do Artista Quando Coisa" Luiz Melodia
Dica de um amigo no Brasil, este Eject prefere economizar as palavras e pedir que você olhe a capa deste CD artístico, com Luiz Melodia pintado como Carlinhos Brown na Timbalada.