O colunista mais amado e odiado do Brasil
Por Sylvie Piccolotto & André Takeda
Dividindo seu tempo entre San Francisco e São Paulo, o jornalista Álvaro Pereira Júnior cria polêmicas semanais em sua coluna Escuta Aqui, publicada todas as segundas-feiras no caderno Folhateen da Folha de São Paulo. Confira aora o papo que o London Burning bateu com APJ.
LB - Vc, o André Barcinski, o Lúcio Ribeiro, entre outros, são muito criticados pelos jovens jornalistas, que os chamam de "velha guarda". Eles acreditam que vcs não têm mais nada de novo a dizer e os acusam de serem preconceituosos em relação ao rock pop nacional. O que vc tem a dizer a esta "jovem guarda"?
APJ - Acho natural que surjam novas gerações de jornalistas. Se cobro tanto, na minha coluna, que a MPB deve se renovar, eu não poderia agir diferente quando o assunto é jornalismo musical. Mas é bom lembrar que juventude, por si, não garante qualidade. E, infelizmente, o pouco que leio desses novos nomes é muito fraco. Sem querer parecer pedante, 90% do que cai na minha mão é imitação do meu jeito de escrever, que, por sua vez, já não é lá grande coisa...
LB - Vc conhece/lê algum zine de cultura pop feito no Brasil?
APJ - De vez em quando recebo alguma coisa, e, do pouco que leio, acho quase tudo sofrível. Idéias requentadas, estilo gongórico, piegas. Uma desgraça. Única exceção: um zine feito por ex-alunos da ECA-USP chamado "Hypoglós", se não me engano. Era absurdamente bem-escrito e tinha idéias originais, visão de mundo própria, erudição, deboche... e me esculhambava bastante. Não sei onde andam esses caras (eram dois). Pena.
LB - Como é (foi) fazer programa de rádio tocando músicas pouco ouvidas pela grande massa? Você gostaria de ter um programa diferente?
APJ - O "Garagem" é uma brincadeira. Só existe porque o André Barcinski é maluco. Não ganhamos nem pagamos nada para fazê-lo. É divertido, e está no horário certo.
LB - Muita gente afirma que é necessário viver fora do país natal para amá-lo de verdade. Vc, que vive nos Estados Unidos, concorda com isso? Como a sua experiência no exterior mudou o jeito que vc vê o Brasil?
APJ - Morar fora é importante porque o acesso à informação, nas grandes cidades do primeiro mundo, é estupidamente maior do que se tem no Brasil, mesmo em São Paulo. Por outro lado, a vida no exterior é também chata e cheia de regras, coisa que incomoda brasileiros. Em resumo, sem morar fora um tempo, acho difícil alguém escrever direito sobre qualquer assunto. Mas tem seu preço.
LB - O que a cena independente de rock brasileira tem que aprender com a americana? APJ - Primeiro, aprender a tocar. Segundo, a se organizar. No Brasil, há uns meses, vi um show de uma banda chamada Super 8, e gostei. Fui pedir uma fita pros caras e eles disseram que não tinham, mas que "parece que um cara nas galerias tem". É o fim.
LB - Qual foi o último show que vc assistiu? Que show vc gostaria de assistir que vc não tenha visto.
APJ - O último foi Belle and Sebastian, em San Francisco. Nunca vi Beatles, gostaria de.
LB - Quem é mais chato: Arnaldo Antunes ou Radiohead?
APJ - > Arnaldo Antunes, porque é em português e a gente entende as bobagens que ele fala. E o Thom Yorke, chato ou não, tem muito talento.
LB - Quase todo mês a Folhateen publica uma carta de um leitor pedindo a sua
demissão. Qual o seu sentimento em relação à tudo isso? E a Folha, como reage?
> APJ - Minha coluna sai em um caderno semanal, que nem tamanho de jornal tem e é dirigido a um público específico (adolescentes). Em bom português: "Escuta Aqui" não tem a mínima importância. A Folha tem coisas mais urgente com que se preocupar.
LB - Como vc se sente colocando Belle & Sebastian, Air, Radiohead e outras bandas legais como trilha de suas matérias no Fantástico?
APJ - Me sinto feliz de que alguém perceba.
LB - Quais são seus projetos atuais?
APJ - Voltar para o Brasil, em definitivo, no fim do ano. Fazer um livro-coletânea de minhas colunas.
LB - Em uma coluna, li que vc é fã de Nick Hornby. Então vamos fazer como o personagem de Alta Fidelidade? Para você quais são: 1. as cinco melhores músicas de todos os tempos e 2. as cinco piores músicas de todos os tempos.
APJ - Tenho péssima memória, Sylvie. Fico te devendo essa. Mas a melhor deve ser dos Beatles, ou do Sonic Youth, ou do Clash. E a pior, Carlinhos Brown, Titãs ou Creed.
LB - Qual é a sua aposta pessoal para a música atualmente?
APJ- Não faço idéia. Se o futuro não significar que todas as bandas serão iguais ao Blink-182 e ao Staind, já está bom.
LB - Vc escuta rock nacional atual? Recebe demos e afins?
APJ - Não recebo e não escuto.
LB - O que vc acha do que está acontecendo no Brasil em relação à atividade de bandas 'underground'?
APJ - Pelo que leio, há muita gente se mexendo, principalmente em centros menores, como Goiânia, Londrina etc. Tomara que saia coisa boa daí, e não a milionésima imitação do Weezer.
LB - O que você acha do dito rock gaúcho?
APJ - Eu sempre falo para uns amigos gaúchos: deve haver algo muito errado com um povo cujo grande salto cosmopolita na vida é mudar-se para... São Paulo!