Muito rango e pouco som
[ 05.Out.2001 ]
Procurar no arquivo
Mais Babel:
A. Corrêa do Lago
Aldir Blanc
Arthur Dapieve
João Moreira Salles
Joaquim F. Santos
Ricardo Prado
Discos
Filmes
Livros
Olhares e perfis
Dorrit Harazim
Marcos Sá Corrêa
Sérgio Abranches
Tutty Vasques
Villas-Bôas Corrêa
Walter Fontoura
Xico Vargas
Zuenir Ventura
A. Corrêa do Lago
Babel
Andrea
Kauffmann-Zeh
Ciência
Aldir Blanc
Babel
Arthur Dapieve
Música
Camille Paglia
Salon
Carla Rodrigues
Textos acadêmicos
Elena Landau
Futebol
Flávia Velloso e
J. Teixeira da Costa
Economia
Guilherme Fiuza
Opinião
João Moreira Salles
Babel
Joaquim F. Santos
Televisão
Leonardo Pimentel
Notícias na rede
Pedro Doria
O que há (pela web)
Ricardo Prado
Babel
Rita Lee
Alô Alô Marciano
Scott Rosenberg
Salon
Silvio Meira
Tecnologia
Suzy Capó
Sexo
André Urani
C. de Moura Castro
Drauzio Varella
João Gordo
Kenneth Maxwell
Luiz E. Soares
Luiz F. Alencastro
Sergio Bermudes
Arnaldo Cohen
Londres
Inês Pedrosa
Lisboa
Frédéric Pagès
Paris
Jonathan Kandell
Nova York
Babel
Discos
Filmes
Livros
Olhares e perfis
Especiais
Reportagens
Notícias
das agências
Caixa postal
Correspondência do leitor
Arquivo
Pesquisa completa
Biblioteca
Textos para download
Quem somos
Equipe e contato
Ivan Finotti
Márcio Custódio
Três da madrugada de segunda para terça desta semana. No Espaço Urbano, uma casa noturna no bairro de Pinheiros, em São Paulo, algumas mesas separam Ian McCulloch, líder e vocalista da mítica banda de rock Echo & the Bunnymen, e Alexandre Pires, líder e vocalista do alinhado grupo de pagode Só Pra Contrariar.
O jornalista André Barcinski não se contém. Chega no ouvido de Pires:
-Alexandre, tem um cara ali na mesa, um roqueiro inglês famoso, que é muito fã do seu trabalho. Ele adora o Só Pra Contrariar, tem todos os seus discos e quer muito te conhecer. Você poderia dar uma chegadinha ali comigo?
Na mesa, o também jornalista Paulo César Martins, o Paulão, faz a sua parte:
-Ian, tem um cara ali na pista que te adora. É o maior sambista do Brasil e é fã do Echo & the Bunnymen. Ficou sabendo que você estava aqui hoje e veio especialmente para te conhecer. Ah, ele está vindo para cá. Vamos tirar uma foto juntos?
É claro que Ian nunca tinha ouvido sequer falar de Só Pra Contrariar. E, para Alexandre Pires, o nome Echo & the Bunnymen soa tão distante quanto as montanhas do Afeganistão. Mas que a foto saiu, saiu. E também um diálogo de meio minuto, com amenidades como "Está gostando do Brasil?" e "Já foi à Inglaterra?", cada um tentando ser simpático com o outro, crentes que estavam diante de um fã número um.
Diversão garantida, pelo menos para os dois jornalistas e os DJs Márcio Custódio e Érica de Freitas, que acompanhavam Ian na balada. Balada que começou no início da noite com um rolê pelas rádios rock de São Paulo, onde o inglês divulgava o CD "Flowers", o último de sua banda, lançado aqui pela independente Sum Records. Na Brasil 2000, McCulloch e sua escudeira da gravadora, Andréa de Marco, participaram do caótico "Garagem", programa de Barcinski e Paulão. Lá, ele destruiu um CD de Paul Simon com uma furadeira ("É justo pelo lixo que ele tem feito nos últimos 20 anos") e tomou três caipirinhas de pinga de alambique mineira ("É uma das melhores que já tomei", disse ao barman Raimundo, trazido especialmente do Galpão 16). Em 87, após sua primeira turnê brasileira (a outra foi em 99), o autor de "Rescue" declarou que a melhor coisa que descobriu no país foi a mistura de limão, açúcar e cachaça.
A passagem de uma semana de McCulloch pelo Brasil pode ser resumida em três pontos principais: bebida, comida e mais bebida. Com algumas pitadas, é claro, de sexo, drogas e rock´n´roll. No Urbano, onde conheceu o pagodeiro, McCulloch engatou às três caipirinhas quatro conhaques misturados com licor de creme de chocolate, mais alguns drinques esparsos. Ficou tão alegre que, na volta para o hotel da Vila Olímpia, no Uno 89 prateado da DJ Érica, não fechou a boca. Cantou Abba ("Fernando"), Frank Sinatra ("My Way"), Oasis ("Champagne Supernova", "um lixo", disse). Cantou até "People Are Strange", canção do Doors surrupiada pelo Echo em 1987. "A minha versão é melhor, não é?", perguntou.
Na quarta-feira, Barcinski, Paulão e Érica levaram Ian e Pete Byrne, empresário e guitarrista de apoio da banda, ao clássico Corinthians e Palmeiras, no Morumbi. McCulloch é um entusiasta apaixonado do futebol. Na Inglaterra, é torcedor do Liverpool, daqueles que compram carnês com todos os ingressos da temporada. "Fui em todos os jogos nos últimos 14 anos. Ainda vou ser presidente do clube", brinca. Paulão, corintiano de comprar pay-per-view, presenteou o roqueiro com uma bandeira do Timão e garantiu mais uma adesão à sfileiras alvi-negras. A partida foi das boas, 4 a 2 para o time de McCulloch, mas o inglês quase pôs tudo a perder. Quando o jogo estava 3 a 0 para o Corinthians, com apenas 30 minutos de bola corrida, ele hutou:"Vai ser 5 a 0". Foi só ele falar que o Palmeiras marcou e chegou perto de empatar o jogo, no início do segundo tempo, ao diminuir para 3 a 2.
Só mesmo esse pé frio para explicar a roupa de inverno londrino com que Ian foi ao Morumbi. Com meias pretas de lã, tênis Adidas de couro, calça de veludo, camiseta preta, paletó (que ele não tirou) e bandeira do Corinthians enrolada no pulso, o autor de "Killing Moon" deve ter sofrido horrores debaixo do sol de 30 graus, mas não demonstrou. Fato curioso, ainda mais depois que ele se encantou com os sanduíches na porta do estádio. "O que é isso?" Era pernil. Comeu um e pediu um segundo, dessa vez de linguiça. Ambos completos, com maionese, repolho e o que mais viesse. Durante a partida, comprou quatro tipos de amendoim: bolinha, japonês, com casca e doce. A única coisa que recusou foi a cerveja sem álcool vendida no local. "É muito ruim", disse, contorcendo toda a cara.
Depois do jogo, McCulloch foi ao Montana Grill, churrascaria da dupla caipira Chitãozinho e Xororó na avenida Juscelino Kubitschek. Adorou a fraldinha, comeu dezenas de corações de frango e pediu a costela mais gordurosa da casa, tudo acompanhado por cerveja (com álcool) e mais caipirinha. Na sobremesa, pediu pudim de leite, mas pediu para trocar a calda de caramelo por um cálice de rum como cobertura.
O dia seguinte, quinta-feira, foi a vez do DJ Club. Márcio Custódio e Érica de Freitas, que mantêm lá o projeto Sound, aos sábados, organizaram uma festa especial para Ian discotecar. Ele pediu uma lista de CDs que iam de Blur a Velvet Underground, passando por Nirvana, Fatboy Slim e Frank Sinatra. Quinhentas pessoas lotaram o lugar. Eram todos jornalistas e fãs, como Marcelo Araujo, o Meleca, que seguiu Ian por onde passou. Depois das visitas às rádios na segunda, Meleca foi atrás do inglês no Sesc Pompéia, onde gravou o programa "Musikaos", na terça-feira, e fez plantão na porta da MTV na quinta. Ali, conseguiu autógrafos em dois CDs. Mais tarde, Meleca conseguiu entrar no reservado do DJ Club, onde Ian e alguns poucos bebiam cerveja. Apertou as mãos do roqueiro e trocou algumas palavras. "Vou passar a semana inteira fazendo inveja para os meus amigos no Tremembé", explicou o único fã da zona norte que pode se gabar de ter entrado no reservado de seu ídolo.
O set de McCulloch foi dos mais estranhos que se viu no DJ Club. Não pelo pouco tempo, não mais que 40 minutos, nem pelas músicas que tocou, apesar de algumas esquisitices: Iggy Pop ("Lust for life"), Doors ("LA Woman"), david Bowie ("Jean Genie"), Nirvana ("All Apologies"), Grace Jones ("La Vie en Rose") e Frank Sinatra (vou ficar devendo), nessa ordem. O que causou estranheza foi que ninguém dançou. Os convidados ficavam ali, na pista lotada, olhando para McCulloch como se fosse um show de rock, sem querer perder um único trejeito do artista. Ao fim de cada música, Ian era aplaudido. O auge foi quando entrou uam música própria, "The Cutter", música de "Porcupine", CD que Kurt Cobain considerava um dos melhores de todos os tempos. Ian abaixou o som nos refrões para o povo cantar e, como um maestro, conduziu a canção. Para sair, escolheu "She Loves You", dos Beatles.
Sexta-feira era dia de Ian conhecer o barzinho do Hotel Cambridge. E sábado, dia de ir embora. A mala sai mais recheada do que quando chegou, no domingo passado. No meio das roupas pretas, vai uma camiseta amarela da Seleção Brasileira, presente que todo gringo parece estar destinado a receber. E, claro, a bandeira
do Corinthians.
Nenhum comentário:
Postar um comentário