segunda-feira, novembro 26, 2001
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Britney Spears dá vontade de mudar para Saturno
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA
Já que a época é de vestibular, uma pergunta de múltipla escolha para você. Quem deu a declaração abaixo:
"Ah, quando eu fui à premiação da "Billboard", eu estava usando um chapéu laranja e um casaco laranja, meia arrastão, botas, e estava, tipo, muuuito horrível. Nada a ver, parecia uma cafetina. E eu, tipo, pensei: "Não estou nem aí, vou assim mesmo". É claro que minha mãe falou, tipo, "Você vai desse jeito?'"
a)Barry Sharpless, Nobel de química deste ano;
b)Harold Bloom, crítico literário;
c)Britney Spears;
d)Uma anta;
e)"c" e "d" estão corretas.
Esse primor de raciocínio é só um entre vários trechos que desafiam qualquer qualificação possível e que compõem a mais recente reportagem de capa da revista norte-americana "Rolling Stone". A entrevista, claro, é com a cantora Britney Spears, 20 anos e muito silicone.
Não quero parecer purista ou defensor de alguma tese hipócrita sobre "jornalismo de alto nível". Tenho experiência suficiente para saber que uma revista como a "Rolling Stone" precisa vender muito, e que Britney Spears na capa atrai infinitamente mais compradores do que uma banda do interior de Oklahoma conhecida só por meia dúzia de "nerds" bem informados.
Mas não há como fugir do adjetivo "deprimente" ao ler a reportagem principal da edição mais importante do ano da "Rolling Stone" e constatar que trata-se de um blablablá desmiolado com uma menina lindíssima, mas que nada tem a dizer.
A "RS" escolheu Britney como a "personalidade do ano". E destacou também Fred Durst (do Limp Bizkit), Alicia Keys (cantora), Dave Matthews (aquele), Bono, a atriz Angelina Jolie (yes!), a banda Sum 41, a boy band 'Nsync, Bob Dylan, Paul McCartney (a entrevista com ele é a melhor coisa da revista), e, entre vários outros nomes, o inominável Aaron Lewis, líder do grupo Staind, um cara que, a meu ver, deveria depositar todo dia um milhão de dólares na conta de Eddie Vedder, vocalista do Pearl Jam, de quem ele copia absolutamente tudo o que faz.
Como dizia meu amigo André Forastieri, uma relação dessas é um monumento à mediocridade dos tempos. E, pior ainda, foi publicado na "Rolling Stone", uma revista que, por seu passado inovador, sempre mereceu admiração.
Por favor, quando sai a próxima nave para Saturno?
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