segunda-feira, outubro 15, 2001

escuta aqui

Bin Laden nos olhos dos outros é refresco
ÁLVARO PERREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA

F., nosso personagem de hoje, é um tipo raro de cientista: tem uma paciência de Jó. Mesmo trabalhando em um centro de pesquisa de ponta na Califórnia, em clima altamente competitivo, F. destaca-se pela vontade de ajudar. Não faz fofoca de escritório e não se incomoda, pelo menos aparentemente, em passar horas explicando uma nova técnica a um companheiro.
F. tem uma deficiência física, que suplantou com empenho e capacidade intelectual.
O começo de setembro era especial para F.: sua mulher, professora, também deficiente física, estava grávida. Tempo especial, mas também aflitivo: fazia semanas que aconteciam vários "alarmes falsos". E o parto, mesmo quando parecia iminente, acabava adiado.
O sogro de F. passava uma temporada na Costa Leste. Preocupado com as incertezas da gravidez da filha, decidiu vir acompanhar tudo de perto.
Mas o sogro de F. nunca mais viu a família. Ele estava no vôo 93 da United, que caiu sobre a Pensilvânia, em 11 de setembro. Nesse avião, ao que tudo indica, passageiros atléticos enfrentaram os terroristas, evitando um desastre ainda maior.
O filho de F. finalmente nasceu, está bem. Ia se chamar J., os pais mudaram para A., nome do avô que ele jamais vai conhecer.
Contei esta história porque tenho lido sobre certas reações antiamericanas no Brasil. Logo depois dos ataques de 11 de setembro, vi que jovens alunos de uma colégio de filhinhos de papai da zona sul do Rio apoiaram maciçamente a demência de Osama bin Laden.
Até entendo essas atitudes. Apesar de viver há dois anos aqui e de apreciar principalmente o acesso à informação que os EUA possibilitam, minha admiração pelo modo de vida local é zero. Não engulo seu pragmatismo cego, sua incapacidade de enxergar nuances, sua ignorância sobre tudo o que não seja americano.
Sei que os EUA são arrogantes e que seu presidente parece ter um teleprompter embutido no cérebro.
Mas não dá para achar bonito ver 5.000 inocentes morrerem.
Do conforto da zona sul carioca, com escr..., digo, empregadas satisfazendo todos os desejos e com a mamãezinha trazendo comida quente, é fácil ser rebelde.
Se blablablá fosse alguma coisa, o Brasil não estaria na lama de hoje, e Glauber Rocha teria sido o maior cineasta de todos os tempos.
A loucura Taleban não é uma abstração. Matou gente de verdade, como o sogro de F., cientista do bem.


GRINGAS

Calcinhas da Shirley 1
O Garbage, banda da rainha diaba Shirley Manson, foi promover seu novo disco no programa de entrevistas de David Letterman. Com a ruiva Shirley no palco, claro que a música passa para segundo plano, e foi difícil não achar estranho o novo visual que ela apresentou, tipo David Bowie em 74.

Calcinhas da Shirley 2
Ela raspou quase careca dos lados, e deixou uma enorme franja vermelha. De botas pretas até o joelho, Shirley usava uma bermuda jeans comprida, bem folgada na cintura. Aparecendo acima da bermuda, viam-se claramente as laterais de uma calcinha vermelha. Mas calcinha de gringa, tipo aquelas em forma de coador.

O melhor de Nova York
Se você tem acesso, não deixe de comprar a edição especial da revista "Rolling Stone" sobre os atentados contra Nova York e Washington. Dois destaques: o jornalista que passou semanas numa escola religiosa no Paquistão (muito Alcorão, homossexualismo e um pouco de vôlei) e o repórter que almoçou com Bin Laden no Sudão.

História do New Order
Ainda sob o impacto do ótimo CD "Get Ready", "Escuta Aqui" não consegue parar de ler tudo o que cai em suas mãos sobre o New Order. A última maravilha foi uma gigantesca reportagem da revista "Mojo", contando tudo e mais um pouco sobre o grupo. Para os raros que têm din-din, imperdível.




CD PLAYER

"East Polar Opposite Can Dream", Magoo
É com satisfação que "Escuta Aqui" registra a volta de uma de suas bandas preferidas. Este compacto com três faixas mantém a linha eletrônica/rock, obra de cientista maluco.

"Androginy", Garbage
A nova do Garbage é o tipo de música que parece que vai, parece que vai e acaba não "fondo". Como dizia o Butt-Head, às vezes é legal que parte de uma música seja ruim para que a parte boa pareça melhor ainda.

"Retrato do Artista Quando Coisa" Luiz Melodia
Dica de um amigo no Brasil, este Eject prefere economizar as palavras e pedir que você olhe a capa deste CD artístico, com Luiz Melodia pintado como Carlinhos Brown na Timbalada.

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