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Osama, antraz e internet levam San Francisco a nocaute
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA
Usando luvas roxas de borracha, a funcionária do correio comenta que nunca viu tão pouca gente na agência onde estou, perto de Berkeley, Califórnia (EUA). Ela acha que é medo, e que o medo é bobagem. "Isso é tudo "media hype". Continuo fazendo meu trabalho como sempre. Só estou de luvas." Era uma terça-feira, meio de tarde.
A balconista do correio pode até achar que não, mas tudo mudou nos EUA pós-11 de setembro e pós-cartas com antraz. Correio vazio é só uma entre milhares de novas realidades.
Horas antes de entrar na agência do "post office", eu tinha feito algo raro nesses quase dois anos vivendo nos EUA: saíra para passear a pé por San Francisco. E digo a você, jovem leitor: é brutal o estrago que o colapso das empresas de internet, associado à onda de terrorismo, causou nesta cidade.
Começo por uma região que, há menos de um ano, fervilhava: as avenidas Jackson e Pacific, perto da linda Embarcadero, ampla avenida que margeia a baía de San Francisco.
Passo pelo prédio de tijolinhos onde funcionava a revista "Industry Standard", uma bíblia da economia pontocom. O prédio e o logotipo ainda estão lá, mas a "Industry Standard" faliu.
Ao lado, o ultramoderno restaurante mc2 nem abre mais para almoço. E não há quase clientes na sorveteria zero, modernamente com z minúsculo.
Caminho na direção de Chinatown, o caótico bairro chinês que costumo evitar justamente por causa da bagunça 24 horas. Só que a Chinatown de agora é outra. Não há turistas. Velhinhos cantoneses aposentados descansam na praça, como se estivessem em um dos poucos bairros sossegados de Hong Kong. Nas portas dos restaurantes, fregueses são puxados a laço. Nunca imaginei que veria Chinatown assim.
Viro na direção de North Beach, o frenético bairro das casas de striptease e dos restaurantes italianos. Finalmente, uma fila. De três pessoas, para entrar no Boys Toys, clube de strippers que promete "beautiful girls and fabulous food". Vai ver que eles estavam com fome.
Faz um raríssimo dia de calor (22 C) em fim de outubro, e, um quarteirão para baixo, as mesas estão nas calçadas. Vazias. No café Niebaum-Coppola, que pertence ao cineasta, uma cliente conversa em italiano com o garçom. Não parece San Francisco. Parece o interior da Itália.
Volto para casa sem enfrentar congestionamentos, com a sensação inquietante de que alguém decretou um feriado macabro.
GRINGAS
Zoaram com o Brown 1
E viva a sabedoria popular! Leio na internet que o último show de Carlinhos Brown em São Paulo atraiu a gigantesca massa de... 20 pessoas. Isso, 20, dois, zero, apesar de todo o espaço que esse sujeito tem na mídia, que, rastejante como sempre, o trata como gênio. A palavra final veio da bilheteria.
Zoaram com o Brown 2
No Rock in Rio, Carlinhos Brown foi recebido a garrafadas pelo público. Pôs a culpa nos "metaleiros", que não saberiam, segundo a sumidade Brown, apreciar o verdadeiro som do Brasil. Vamos ver qual desculpa ele vai dar agora. Ressalte-se que o fracasso aconteceu em São Paulo, que tem público para qualquer coisa.
Abacaxi atômico
Abacaxi é pouco para definir "Mulholland Drive", a última picaretag..., digo, película do diretor David Lynch. O roteiro deve ter sido escrito pelo Carlinhos Brown, porque não dá para entender nada. As mesmas atrizes fazem vários personagens, duendes fogem de uma caixinha levada por uma bruxa etc. etc. etc.
Lixo da TV
Como prova de que qualquer coisa vende nos EUA, a genial gravadora e distribuidora Rhino, de Los Angeles, acaba de lançar em DVD os seis episódios de "Pink Lady", considerada a pior série da história da TV americana. "Pink Lady" mostra duas cantoras japonesas que não cantam nem falam inglês.
CD PLAYER
PLAY
"Ox4 The Best of Ride", Ride
Coletânea de uma das maiores bandas britânicas da virada dos anos 80/90, do tipo que tocava olhando para os sapatos e escondia as melodias sob zilhões de guitarras enfurecidas. Era bom, continua sendo.
PAUSE
A existência do Bush
Não é o George W., é a banda. Saiu o disco novo, "Golden State", que não ouvi. O grupo sempre me intrigou. É imitação atrasada do Nirvana, mas faz ótimas apresentações ao vivo e tem senso de humor.
EJECT
"Tem muito homem"
A KALX, rádio da Universidade da Califórnia em Berkeley, toca muita música brasileira cabeça. Esta semana, rolou uma medonha, em que uma mulher repete: "Tem muito homem, tem muito homem!" Não sei o que é.
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